segunda-feira, 30 de maio de 2011

AOS MEUS AMIGOS CONTEMPORÂNEOS E AOS JOVENS QUE NÃO CONHECERAM ESTA VIDA...

Senti vontade de escrever sobre os anos da minha juventude. Anos Dourados...
Será que as gerações posteriores à minha tiveram uma juventude tão marcante,  tão cheia de amor e ódio, liberdade e prisão, poesia e dor, criação e censura e por aí vai...Sinto que apesar de todos os males decorridos e talvez também por causa deles esta foi uma geração tão determinante, como apocalíptica, de uma era. Sinto-me muito enriquecida em valores, ética, caráter, bondade, humildade e conhecimentos, justo por tudo que vivi.
Não sei se todas as gerações se sentem assim com referência à sua juventude, mas com certeza, pelo que posso ver, atualmente, formamos aquele grupo de pessoas que viveu a derradeira época romântica, a era anterior à cibernética.
Depois tudo mudou, e continua mudando cada vez  mais rápido do que  a maioria dos seres humanos podem acompanhar. Infelizmente não vejo um futuro belo, onde todos viverão em harmonia e sem falta de tudo que precisamos para viver com dignidade, outrossim antevejo cada vez mais, poucos tomando decisões por muitos e com certeza com métodos que lhes darão a total subserviência dos demais. Espero que esteja errada, mas voltemos ao caminho do qual me desviei por causa dessa sensação desagradável...
Aqui o objetivo principal é enumerar todas as coisas boas vividas em uma época...
Ah! Como era bom podermos ficar a beira mar até o dia clarear, em total segurança, apreciar a beleza divina do nascer do sol. Ver chegarem os primeiros banhistas, geralmente com suas crianças sempre barulhentas e felizes, mais tarde os jovens que estavam começando a surfar - prancha de madeira - o frescobol que já marcava sua presença na época. Todos se conheciam na praia - Ipanema - senão de amizade, de cumprimento. Lembro-me que entravamos mar adentro, sem medo - isto é coisa de qualquer juventude - mesmo estando ele de ressaca pois se precisássemos de ajuda os rapazes que lá estavam, nos trariam para terra, em segurança.
Para quem viveu esta época era muito fácil imaginar Tom e Vinícius sentados no bar Veloso. na Prudente de Morais com a Montenegro, compondo Garota de Ipanema. Como não foi logo divulgado quem era a musa, todas nós éramos a garota de Ipanema e mesmo depois não deixamos de sê-lo. Nesta época os bailes nos clubes começavam às 11:00 e terminavam às 04:00 e podíamos voltar para casa até caminhando, com os amigos, se preferíssemos. Tempos de bailes de formatura não só da universidade mas também dos atuais 1º e 2º graus. O grande baile de debutantes onde as moças, aos quinze anos eram apresentadas à sociedade. As grandes turmas de ruas, como Miguel Lemos- tida como a mais perigosa - e outras tantas, que sempre arrumavam briga quando penetravam nas festas da turma rival, o pessoal do deixa disso, tudo ao meu ver um movimento saudável de  adolescentes tentando se firmar, claro que alguns, às vezes, exageravam na dose da bebida e precisavam de adultos para resolver a questão.
Vejo esta época como a mais profícua da música popular brasileira . Novos ritmos eram lançados, mas ouvia-se de tudo devido a qualidade do que era criado. Ah! A bossa-nova. Já falei de nossos maiores ícones o maestro e o poetinha. Não vou enumerar aqui todos eles, isto já foi feito em  "Samba da Benção" Saravá..., toda a riqueza melódica existente na época coexistiam e complementavam as do passado. A Tropicália, a Jovem Guarda, os Festivais de Música enfim toda uma efervecência que nem a ditadura conseguiu aplacar totalmente." Apesar de você amanhã há de ser outro dia" - nosso querido Chico Buarque de Holanda. Naquele tempo  quem participava dos programas tipo Qual é a Música, eram os próprios compositores famosos, coisa de altíssimo nível. Não posso  deixar de falar em Edu Lobo na época jovem compositor de talento, meu ídolo. Todas as artes chamavam a nossa atenção pois  mesmo que por debaixo do pano, a indignação contra a ditadura estampava-se apesar de toda a censura da época. Os jovens viviam para lutar em prol de um Brasil melhor. A maioria das pessoas tinham consciência política. Os homens ainda eram cavalheiros. O Reporter Esso estava no ar. O desfile de misses era um acontecimento que movimentava todo o Brasil. O Canal 100 e sua trilha sonora sempre nos acompanhava no cinema. Eu estudava à noite na praça XV e voltava tranquilamente para casa e o ônibus me deixava na porta de casa. O motorista perguntava: aonde você quer que eu te deixe? Ah! E o namoro. Existia todo um ritual a ser seguido. E como era bom existirem todas aquelas fases. E namorar na praia?  Uma delícia... E o Chopp do Bar Luiz? Sempre geladíssimo. E a Colombo? Pura tradição. E o desfile das escolas de samba na Avenida Presidente Vargas? Puro carnaval. A chegada do homem à Lua. As motocicletas. As Lambretas. A Velosolex. O movimento hippie: paz e amor...

Se me esqueci de alguma coisa muito importante, lembrem-me amigos contemporâneos...

Se tiver dúvidas, pergunte a alguém desta época, jovens de hoje...

Muitos não terão lembranças tão boas daquela época, pois perderam seus entes queridos  muitos dos quais desapareceram sem deixar vestígios. Outros tiveram que se exilar temporariamente.

Parece que aqui na Terra temos que aprender a sermos felizes apesar de..., senão, nunca o seremos!


 

Um comentário:

  1. Velhos tempos que não voltam jamais...! Tenho saudades e muita!Eramos felizes e não sabíamos. Lindo texto Vera! Parabéns.

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